Deixai vir a mim os refugiados afegãos

Deixai vir a mim os refugiados afegãos

Como podemos ver pelas imagens angustiantes que vêm do Afeganistão, a maioria dos que desejam fugir do Talibã jamais conseguirá escapar, mesmo muitos daqueles que ajudaram fielmente os Estados Unidos na guerra de vinte anos naquele país.

Alguns, porém, conseguirão chegar a outros países — entre eles, os Estados Unidos — em busca de abrigo e de começar uma nova vida. Como cristãos evangélicos, devemos decidir, mesmo antes da chegada de nossos novos próximos, ignorar as vozes dos que nos pedem para temermos esses refugiados.

Ao longo da história, aqueles que desejam rejeitar os refugiados adotam uma série de táticas diferentes. Às vezes falam deles usando termos que remetem à “impureza” — usando roedores ou insetos como metáforas — ou podem sugerir que os que estão em busca de asilo são, eles próprios, vetores de doenças. Outras vezes, embora com menos frequência, referem-se, tão grosseiramente quanto alguns o são, aos refugiados como uma “invasão” daqueles que estão vindo para “tomar nosso lugar” (sendo que esse “nós” quase sempre se refere a americanos brancos e nominalmente cristãos). Mas, talvez com maior frequência, falem dos refugiados como uma ameaça.

Assim como vimos acontecer com os refugiados sírios e curdos em anos anteriores, em breve ouviremos o clamor insistente daqueles que argumentam que os refugiados afegãos são terroristas, ou pelo menos podem ser, já que “não passaram por um processo de verificação” e não sabemos nada sobre eles . Essas afirmações não são verdadeiras.

Como Elizabeth Neumann — uma ex-autoridade da área de segurança nacional do alto escalão do governo Trump — demonstra, mesmo que um terrorista se dispusesse a jogar um longo jogo de vinte anos, fingindo ser uma figura a favor do Ocidente e contrária aoTalibã, o processo de verificação para todos esses refugiados é intenso e rigoroso, e faz uso de extensas checagens biométricas e biográficas. E, como Neumann também aponta, o tipo de retórica usada contra esses refugiados quase sempre vem acompanhada por um aumento nos crimes ou na violência cometidos contra essas pessoas.

Os refugiados que se mudarem para sua comunidade não estarão lá para aterrorizar você nem para “tomar seu lugar”. Em vez disso, eles estarão procurando a chance de começar uma nova vida — sem ter que ver seus filhos sendo assassinados e suas filhas sendo estupradas por déspotas sedentos de sangue. Dessa forma, eles serão como inúmeras outras pessoas que encontraram refúgio nos Estados Unidos. Você pode ver muitos deles no desfile de Quatro de Julho em sua cidade; muitas vezes são eles que agitam as maiores bandeiras americanas e choram com uma alegria patriótica.

Alguns desses refugiados são seus irmãos e irmãs em Cristo. Outros serão seus futuros irmãos e irmãs em Cristo. Quer sejam quer não, porém, cada um deles reflete para nós a imagem de um Deus que fez a humanidade à sua imagem e ama a cada um de nós.

O medo dos refugiados tem como objetivo nos manter em um estado de alerta que vê tudo e todos que não sejam imediatamente familiares a nós como uma ameaça. Isso mantém telespectadores sintonizados em canais de televisão, pessoas ligando para programas de rádio, doadores enviando dólares para políticos e grupos de interesse. Esse tipo de anulação do sistema límbico pode fazer com que mesmo cristãos que conhecem sua Bíblia se esqueçam até dos mais singelos mandamentos que Jesus nos deu para amar e cuidar dos vulneráveis.

Como Martin Luther King Jr. escreveu, em 1963, o sacerdote e o levita da parábola de Jesus, que se desviaram do homem espancado ao lado da estrada para Jericó, provavelmente não se sentiam pessoas cruéis ou sem coração. Eles deviam estar com medo — e de forma compreensível. O caminho para Jericó era um local afastado e perigoso, propício para criminosos violentos. Aqueles que passaram apressados [pelo homem espancado] podiam muito bem presumir que seriam atacados na próxima curva.

“Talvez os ladrões ainda estivessem por perto”, escreveu King. “Ou talvez o homem ferido no chão fosse um impostor, que desejava atrair para si os viajantes que por ali passavam para atacá-los de forma rápida e fácil. Imagino que a primeira pergunta que o sacerdote e o levita tenham feito foi: ‘Se eu parar para ajudar este homem, o que acontecerá comigo?’ ”

Há ocasiões em que somos chamados a um amor genuinamente perigoso por nosso próximo. Vemos isso no cuidado do samaritano com o homem ferido na estrada para Jericó — ou na igreja primitiva, que superou seu medo de que o terrorista perseguidor da igreja, chamado Saulo de Tarso, pudesse estar fingindo ser um discípulo para fazer mal a eles como alguém de dentro da igreja (Atos 9.26).

No caso dos refugiados afegãos, não enfrentamos nada que se aproxime desse nível de perigo para nós mesmos.

O medo às vezes pode calar até mesmo nossas convicções mais profundas. Começamos a agir de maneiras que visam a autoproteção e nos fazem atacar indiscriminadamente até mesmo ameaças imaginárias. A Bíblia, porém, diz que o amor perfeito lança fora o medo (1João 4.18). Isso deve nos fazer lembrar que, quando nos pegamos perguntando “Quem é meu próximo?”, estamos fazendo a pergunta errada.

Russell Moore lidera o Public Theology Project [Projeto de Teologia Pública] da Christianity Today.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Os 50 países mais difíceis de ser cristão em 2021

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Os 50 países mais difíceis de ser cristão em 2021

O Sudão finalmente saiu dessa lista dos 10 piores países em termos de perseguição, na qual a Índia permanece, enquanto Moçambique e República Democrática do Congo somam-se à Lista Mundial da Perseguição 2021, elaborada pela missão Portas Abertas.

Todos os dias, 13 cristãos no mundo todo são mortos por causa de sua fé. Todos os dias, 12 templos ou edifícios cristãos são atacados. E todos os dias, 12 cristãos são injustamente detidos ou presos, e outros 5 são sequestrados.

É o que relata a Lista Mundial da Perseguição 2021, o último relatório anual da missão Portas Abertas sobre os 50 principais países em que os cristãos são mais perseguidos por seguir a Jesus.

“Você pode pensar que a lista é toda sobre opressão. … Mas a lista tem tudo a ver com resiliência”, afirmou David Curry, presidente e CEO da Portas Abertas USA, ao apresentar o relatório divulgado hoje.

“O número de pessoas do povo de Deus que está sofrendo deveria significar que a Igreja está morrendo — que os cristãos estão se calando, perdendo a fé e se afastando uns dos outros”, afirmou.

“Mas não é isso que está acontecendo.

Em vez disso, em cores nítidas, vemos as palavras de Deus registradas no profeta Isaías: ‘Abrirei um caminho no deserto e rios no deserto.’ (Isaías 43.19, ESV)”.

As nações listadas somam 309 milhões de cristãos que vivem em lugares com níveis de perseguição muito altos ou extremos, acima dos 260 milhões da lista do ano passado.

A esses países poderiam ser acrescentados outros 31 milhões de cristãos dos 24 países que vêm logo após os 50 primeiros — como Cuba, Sri Lanka e os Emirados Árabes Unidos — [contribuindo] para a proporção de 1 em cada 8 cristãos em todo o mundo que enfrentam perseguição.

Isso inclui 1 em cada 6 cristãos na África e 2 em cada 5 na Ásia.

No ano passado, 45 países tiveram uma classificação suficientemente alta para pontuar níveis de perseguição “muito altos” na matriz de 84 questões da missão Portas Abertas.

Este ano, pela primeira vez em 29 anos de acompanhamento, todos os 50 países atingiram essa pontuação — assim como o fizeram mais 4 outras nações, que por pouco ficaram de fora dessa lista das 50 primeiras.

A missão Portas abertas identificou três tendências principais que impulsionaram o aumento do ano passado:

  • “A COVID-19 agiu como um catalisador para a perseguição religiosa por meio de discriminação, conversão forçada e como justificativa para aumentar a vigilância e a censura.”
  • “Ataques extremistas se espalharam oportunisticamente por toda a África Subsaariana, da Nigéria e Camarões a Burkina Faso, Mali e além.”
  • “Os sistemas de censura chineses continuam a se propagar e se espalhar para estados emergentes de vigilância”.

A Portas Abertas têm monitorado a perseguição aos cristãos em todo o mundo desde 1992. A Coreia do Norte ocupa o primeiro lugar há quase 20 anos, desde 2002, quando a lista mundial da perseguição começou a ser feita.

A lista de 2021 rastreia o período de 1º de novembro de 2019 a 31 de outubro de 2020, e foi compilada a partir de relatórios de campo de funcionários da missão Portas Abertas em mais de 60 países.

“Não estamos conversando apenas com líderes religiosos”, disse Curry, no lançamento da lista deste ano, transmitido ao vivo via streaming. “Estamos ouvindo em primeira mão aqueles que estão sendo perseguidos, e registrando apenas o que podemos documentar.”

O objetivo desses rankings anuais da Lista Mundial da Perseguição — que relatam como a Coreia do Norte agora enfrenta concorrência, à medida que a perseguição fica cada vez pior — é servir de orientação para orações e buscar uma forma de ira mais eficaz, ao mesmo tempo em que mostra aos cristãos perseguidos que eles não foram esquecidos.

Onde os cristãos são mais perseguidos hoje?

Este ano, os 10 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos permaneceram relativamente inalterados.

Depois da Coreia do Norte vem o Afeganistão, seguido pela Somália, Líbia, Paquistão, Eritreia, Iêmen, Irã, Nigéria e Índia.

A Nigéria entrou nessa lista dos 10 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos pela primeira vez, após atingir o nível mais alto na métrica da missão Portas Abertas para violência.

A nação, que tem a maior população cristã da África, ocupa a 9ª posição geral no ranking, mas no quesito violência está na 2ª posição, ficando atrás apenas do Paquistão, e ocupa a 1ª posição no quesito número de cristãos mortos por razões relacionadas à sua fé.

O Sudão saiu desse grupo dos 10 piores países pela primeira vez em seis anos, após abolir a pena de morte por apostasia e garantir — ao menos no papel — liberdade religiosa em sua nova constituição, após três décadas de vigor da lei islâmica.

(Esta mudança, ocorrida em dezembro entre os 10 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos, repercute a decisão do Departamento de Estado dos EUA de adicionar a Nigéria e remover o Sudão de sua lista de países de preocupação particular, a qual aponta e envergonha governos que “se envolveram ou toleraram violações sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa.”)

A Índia permanece entre os 10 piores países pelo terceiro ano consecutivo, pois “continua a ver um aumento na violência contra as minorias religiosas devido ao extremismo hindu sancionado pelo governo”.

Enquanto isso, a China se juntou ao grupo dos 20 piores países perseguidores pela primeira vez em uma década, devido à “vigilância e censura contínuas e crescentes de cristãos e de outras minorias religiosas”.

Dos 50 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos:

  • 12 têm níveis “extremos” de perseguição e 38 têm níveis “muito altos”. Outras 4 nações, além das 50 primeiras, também se enquadraram como tendo níveis de perseguição “muito altos”: Cuba, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos e Níger.
  • 19 estão na África (sendo 6 deles no Norte da África); 14 estão na Ásia; 10 estão no Oriente Médio; 5 estão na Ásia Central e 2 estão na América Latina.
  • 34 têm o islamismo como religião principal; 4 têm o budismo; 2 têm o hinduísmo; 1 segue o ateísmo; 1 segue o agnosticismo — e 10 têm como religião principal o cristianismo.

A lista de 2021 acrescentou quatro novos países: México (37º lugar), República Democrática do Congo (40º lugar), Moçambique (45º lugar), e Comores (50º lugar).

Moçambique subiu 21 posições (deixando o 66º lugar) “devido à violência extremista islâmica na província do norte de Cabo Delgado.”

A República Democrática do Congo subiu 17 posições (deixando o 57º lugar) “principalmente devido a ataques a cristãos pelo grupo islâmico Forças Democráticas Aliadas (ADF).”

O México subiu 15 pontos (deixando o 52º lugar) devido ao aumento da violência e da discriminação contra cristãos por parte de traficantes de drogas, gangues e comunidades indígenas.

Quatro países saíram da lista: Sri Lanka (anteriormente no 30º lugar), Rússia (anteriormente no 46º lugar), Emirados Árabes Unidos (anteriormente no 47º lugar) e Níger (anteriormente no 50º lugar).

Outras grandes mudanças na classificação: a Colômbia subiu 11 posições, passando do 41º para o 30º lugar, devido à violência de guerrilheiros, grupos criminosos e comunidades indígenas, bem como pela crescente intolerância secular.

A Turquia subiu 11 posições, passando do 36º para o 25º lugar, devido a um aumento da violência contra cristãos.

E Bangladesh subiu sete posições, passando do 38º para o 31º lugar, devido a ataques a convertidos cristãos entre seus refugiados Rohingya.

No entanto, outros tipos de perseguição podem superar a violência [conforme explicado abaixo].

Por exemplo, a República Centro-Africana caiu 10 posições, passando do 25º para o 35º lugar, embora a violência contra os cristãos continue extrema.

E o Quênia caiu 6 posições, passando do 43º para o 49º lugar, embora os ataques lá “tenham aumentado significativamente”.

Enquanto isso, o Sudão do Sul está entre os 10 países mais violentos, segundo acompanhamento da missão Portas Abertas (ocupando o 9º lugar), mas, ainda assim, não está entre os 50 piores países da Lista Mundial da Perseguição (pois ocupa o 69º lugar).

No 25º aniversário da lista, em 2017, a missão Portas Abertas divulgou uma análise das tendências de perseguição ao longo dos últimos 25 anos.

As 10 principais nações, nesse período de 25 anos, foram: Coreia do Norte, Arábia Saudita, Irã, Somália, Afeganistão, Maldivas, Iêmen, Sudão, Vietnã e China.

Cinco países aparecem na lista dos 25 anos e na lista dos 10 piores países de 2021 — um sinal preocupante da estabilidade da perseguição, como observou a missão Portas Abertas.

Como os cristãos são perseguidos nesses países?

A missão Portas Abertas rastreia a perseguição sob seis categorias — incluindo pressão social e governamental sobre indivíduos, famílias e congregações — e tem um foco especial nas mulheres.

Mas quando se isola a violência como uma categoria, os dez principais países perseguidores mudam dramaticamente — apenas Paquistão, Nigéria e Índia permanecem. Na verdade, hoje, há 20 países em que morrem mais cristãos do que na Coreia do Norte.

Os martírios registrados em todo o mundo aumentaram para 4.761 no relatório de 2021, 60% a mais do que os 2.983 registrados no ano anterior, e superando as 4.305 mortes observadas no relatório de 2019. (A Portas Abertas é conhecida por favorecer uma estimativa mais conservadora do que outros grupos, que geralmente contabilizam 100 mil martírios por ano.)

Nove em cada 10 cristãos mortos por causa de sua fé estavam na África, e o restante, na Ásia. A Nigéria assumiu o primeiro lugar no mundo, com 3.530 mártires confirmados pela missão Portas Abertas, em sua lista de 2021.

O rapto de cristãos subiu para 1.710, um aumento de 63 por cento ante os 1.052 registrados no ano anterior, a primeira vez que essa categoria foi rastreada por Portas Abertas. A Nigéria lidera a lista, com 990 raptos.

O Paquistão ficou com o primeiro lugar no mundo em número de casamentos forçados, uma nova categoria rastreada no ano passado, sendo que cerca de 1 mil cristãos casaram-se contra sua vontade com não-cristãos. A Ásia respondeu por 72 por cento dos casamentos forçados registrados pela Portas Abertas, e a África — liderada pela Nigéria —, pelos 28 por cento restantes.

A China é o principal violador nas outras duas categorias, previamente já monitoradas por Portas Abertas.

A China prendeu, encarcerou ou deteve sem julgamento 1.147 cristãos por motivos relacionados à fé, de um total de 4.277 em todo o mundo. Essa estimativa, feita pela missão Portas Abertas, ultrapassou os 3.711 do ano passado e os 3.150 em 2019.

Enquanto isso, ataques e fechamento forçado de igrejas totalizaram 4.488 em todo o mundo, tendo sido a grande maioria registrada na China, seguida pela Nigéria. No relatório do ano passado, a estimativa disparou de 1.847 para 9.488, sendo que a China respondeu sozinha por 5.576.

A missão Portas Abertas advertiu que, em vários países, as violações acima são muito difíceis de serem documentadas com precisão. Nestes casos, são apresentados números aproximados, mas sempre tendendo para estimativas conservadoras.

Sua pesquisa é certificada e auditada pelo Instituto Internacional pela Liberdade Religiosa, uma rede apoiada pela Aliança Evangélica Mundial, com sede na Alemanha.

Por que os cristãos são perseguidos nesses países?

A motivação principal varia de acordo com o país, e entender melhor essas diferenças pode ajudar cristãos de outros países a orarem e defenderem com mais eficácia seus irmãos e irmãs em Cristo que são vítimas de perseguição.

Por exemplo, embora o Afeganistão seja o segundo pior perseguidor do mundo e uma nação oficialmente muçulmana, o principal motivo de perseguição lá — de acordo com a pesquisa da Portas Abertas — não é o extremismo islâmico, mas o antagonismo étnico, ou o que o relatório chama de “opressão do clã”.

Portas abertas categoriza as fontes primárias de perseguição a cristãos em oito grupos:

Opressão islâmica (29 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em mais da metade dos países monitorados, incluindo 5 dos 12 onde os cristãos enfrentam níveis “extremos” de perseguição: Líbia (Nº 4), Paquistão (Nº 5), Iêmen (Nº 7), Irã (Nº 8), e Síria (Nº 12). A maioria dos 30 são nações oficialmente muçulmanas ou de maioria muçulmana; no entanto, 7 delas na verdade são de maioria cristã: Nigéria (Nº 9), República Centro-Africana (Nº 35), Etiópia (Nº 36), República Democrática do Congo (Nº 40), Camarões (Nº 42), Moçambique (Nº 45) e Quênia (Nº 49).

Opressão do clã (6 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em países como Afeganistão (Nº 2), Somália (Nº 3), Laos (Nº 22), Catar (Nº 29), Nepal (Nº 34), e Omã (Nº 44).

Paranoia ditatorial (5 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em cinco países, principalmente nos da Ásia Central e de maioria muçulmana: Uzbequistão (Nº 21), Turcomenistão (Nº 23), Tajiquistão (Nº 33), Brunei (Nº 39), e Cazaquistão (Nº 41).

Nacionalismo religioso (3 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em três nações asiáticas. Os cristãos são principalmente visados por nacionalistas hindus na Índia (Nº 10), e por nacionalistas budistas em Mianmar (Nº 18) e Butão (Nº 43).

Opressão comunista e pós-comunista (3 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em três países, todos na Ásia: Coreia do Norte (Nº 1), China (Nº 17) e Vietnã (Nº 19).

Protecionismo denominacional cristão (2 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam na Eritreia (Nº 6) e Etiópia (Nº 36).

Corrupção e crime organizado (2 país): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam no Colômbia (Nº 30) e México (Nº 37).

Intolerância secular (0 países): A Portas Abertas rastreia essa fonte de perseguição enfrentada pelos cristãos, mas ela não é a principal fonte em nenhum dos 50 países estudados.

Quais são as principais tendências na perseguição a cristãos?

Portas Abertas identificou quatro tendências, novas ou contínuas, relativas a por que e como os cristãos foram perseguidos por sua fé no ano que passou.

Em primeiro lugar, a pandemia propiciou uma nova via para a perseguição, uma vez que a missão Portas Abertas documentou discriminação contra cristãos que recebiam ajuda por causa da COVID-19 em países como Etiópia, Malásia, Nigéria, Vietnã e Oriente Médio.

Na Índia, onde mais de 100 mil cristãos receberam ajuda de parceiros da missão Portas Abertas, 80 por cento destes relataram ter sido anteriormente “mandados embora de pontos de distribuição de alimentos. Alguns caminharam quilômetros e esconderam sua identidade cristã para conseguir comida em outros locais”, observaram os pesquisadores. A missão Portas Abertas também coletou relatos de “Cristãos que vivem em áreas rurais, a quem foi negado socorro”, em locais como Mianmar, Nepal, Vietnã, Bangladesh, Paquistão, Ásia Central, Malásia, Norte da África, Iêmen e Sudão. “Às vezes, essa negativa de ajuda partiu de oficiais do governo, mas, com mais frequência, partiu de chefes de aldeia, comitês ou outros líderes locais.”

Portas abertas observou:

“A pandemia global tornou a perseguição mais óbvia do que nunca — simplesmente porque muitas pessoas precisaram de ajuda. A clara discriminação e opressão sofrida por cristãos em 2020 não deve ser esquecida, mesmo depois que a crise da COVID-19 desaparecer de nossa memória coletiva.”

Os lockdowns nos serviços de saúde pública também aumentaram a vulnerabilidade de muitos crentes. “Os cristãos que abandonam a fé da maioria para seguir a Cristo sabem que correm o risco de perder todo o apoio do cônjuge, das famílias, das tribos e comunidades, bem como das autoridades locais e nacionais”, observaram os pesquisadores. “Se eles perderem renda, por causa da COVID-19, não podem recorrer às redes de apoio habituais para sobreviver.” Enquanto isso, líderes religiosos, do Egito à América Latina, disseram à missão Portas Abertas que a proibição dos cultos religiosos fez com que as doações caíssem em cerca de 40 por cento, reduzindo sua renda pessoal e a capacidade de suas congregações de oferecer assistência à comunidade em geral.

Portas abertas observou que:

“A maior parte dos que se converteram, vindos de religiões majoritárias, disseram que o confinamento devido à quarentena da COVID-19 os fez ficarem em isolamento social com aqueles que são mais antagônicos à sua fé em Jesus. Isso afetou especialmente mulheres e crianças pertencentes às minorias. Para milhões de cristãos, o trabalho, a educação e outros interesses externos proporcionam breves períodos de tranquilidade em face da constante perseguição. Então, quando os lockdowns ocorreram, isso significou que essa trégua não estaria mais disponível.”

“Também recebemos relatos de que o sequestro, a conversão forçada e o casamento forçado de mulheres e meninas aumentaram durante a pandemia, devido ao aumento da vulnerabilidade. Além disso, na América Latina, locais vulneráveis às gangues de drogas tornaram-se ainda mais perigosos para os cristãos, uma vez que a pandemia diminuiu a presença de autoridades que tentam manter a ordem”.

Em segundo lugar, o aumento da vigilância digital e por vídeo de grupos religiosos, bem como as melhorias e a proliferação das tecnologias de vigilância foram outra tendência importante.

“A China afirma que se moveu assertivamente para conter a COVID-19 depois que o vírus proliferou em Wuhan”, observaram os pesquisadores da missão Portas Abertas. “Mas, para seus 97 milhões de cristãos, o custo de pesadas restrições — como a vigilância que alcançou suas casas, o rastreamento das interações online e offline e o fato de terem seus rostos digitalizados em banco de dados de segurança pública — é alto.”

De acordo com o relatório:

“Relatórios de condados nas províncias de Henan e Jiangxi dizem que câmeras com software de reconhecimento facial estão agora em todos os locais religiosos aprovados pelo Estado. Muitas dessas câmeras foram instaladas próximas a câmeras de segurança padrão, mas elas se conectam ao Departamento de Segurança Pública, o que significa que a inteligência artificial pode se conectar instantaneamente a outros bancos de dados do governo. O software de reconhecimento facial está vinculado ao ‘Sistema de Crédito Social’ na China, que monitora a lealdade dos cidadãos em relação aos princípios do comunismo.”

Da mesma forma, na Índia, os pesquisadores da Portas Abertas observaram que “as minorias religiosas temem que os aplicativos de rastreamento de contato tenham ‘função creeping’ e sejam usados para ficar de olho neles e em suas movimentações”.

Terceiro, a tendência de “cidadania ligada à fé” continuou a se espalhar. “Em países como Índia e Turquia, a identidade religiosa está cada vez mais ligada à identidade nacional — ou seja, para ser um ‘verdadeiro’ indiano ou um bom turco, você deve ser hindu ou muçulmano, respectivamente”, observaram os pesquisadores. “Isso é muitas vezes implicitamente — senão explicitamente — incentivado pelo governo.”

Portas abertas observou:

“Em meio a uma onda de nacionalismo hindu, os cristãos indianos são constantemente pressionados por uma propaganda estridente. A mensagem “para ser indiano, você deve ser hindu” significa que multidões continuam a atacar e a perseguir cristãos, bem como muçulmanos. A crença de que cristãos não são verdadeiramente indianos significa discriminação generalizada, e muitas vezes a perseguição é conduzida com impunidade. A Índia também continua a bloquear o fluxo de fundos estrangeiros para muitos hospitais, escolas e organizações religiosas administradas por cristãos, tudo sob o pretexto de proteger a identidade nacional.”

“Na Turquia, o governo também assumiu o papel de protetor nacionalista do Islã. A Hagia Sophia foi originalmente uma catedral e depois uma mesquita, até que a Turquia secular decidiu que deveria ser um museu. Mas, em julho de 2020, o presidente turco convenceu um tribunal a transformá-la novamente em mesquita, fortalecendo o nacionalismo turco. … A influência turca e os objetivos nacionalistas se espalham além de suas fronteiras, principalmente em seu apoio ao Azerbaijão no conflito com a Armênia.”

Quarto, os ataques, em sua maioria promovidos por extremistas muçulmanos, aumentaram apesar dos lockdowns para conter o coronavírus. “Em grande parte do mundo, a violência contra cristãos realmente diminuiu durante a pandemia da COVID-19”, observaram os pesquisadores, mas os cristãos na África subsaariana “enfrentaram níveis de violência até 30 por cento mais altos do que no ano passado.”

Portas abertas observou que:

“Várias centenas de aldeias, sobretudo cristãs, na Nigéria foram ocupadas ou saqueadas por pastores militantes muçulmanos Hausa-Fulani armados; em alguns casos, campos e plantações também foram destruídos.” Boko Haram — e seu grupo dissidente, o Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP, da sigla em inglês), um afiliado do EI — continuam a atormentar a Nigéria e o extremo norte de Camarões.”

“Na região do Sahel, imediatamente ao sul do Deserto do Saara, o extremismo islâmico é alimentado pela injustiça e pela pobreza. Esses grupos extremistas exploram falhas de governos frágeis, e jihadistas armados espalham propaganda, incentivam o recrutamento e conduzem ataques regulares. Este ano, alguns grupos se comprometeram a travar guerra contra ‘infiéis’ como os cristãos — eles afirmam que ‘Alá pune a todos’ com a pandemia por causa dos infiéis”.

“Em Burkina Faso, país até recentemente conhecido pela harmonia inter-religiosa entre muçulmanos e cristãos, 1 milhão de pessoas — 1 em cada 20 da população — foram deslocadas (e milhões mais passam fome) como resultado da seca, bem como da violência. No ano passado, Burkina Faso entrou dramaticamente na [LMP] pela primeira vez. Este ano, extremistas islâmicos continuam a visar igrejas (14 mortos em um ataque, 24 em outro).”

Como a LMP se compara a outros relatórios importantes sobre a perseguição religiosa?

A missão Portas Abertas acredita que é razoável chamar o cristianismo de religião mais severamente perseguida do mundo. Ao mesmo tempo, destaca que não há uma documentação comparável para a população muçulmana mundial.

Outras avaliações da liberdade religiosa em todo o mundo corroboram muitas das descobertas da Portas Abertas. Por exemplo, a última análise do Pew Research Center sobre as hostilidades governamentais e sociais contra a religião revelou que os cristãos foram perseguidos em 145 países em 2018, mais do que qualquer outro grupo religioso. Muçulmanos foram perseguidos em 139 países, seguidos por judeus em 88 países.

Quando se examina apenas a hostilidade por parte dos governos, os muçulmanos foram perseguidos em 126 países e os cristãos em 124 países, de acordo com o Pew Research Center. Quando se examina apenas a hostilidade dentro da sociedade, os cristãos foram perseguidos em 104 países e muçulmanos em 103 países.

Todas as nações do mundo são monitoradas por pesquisadores e equipe de campo da missão Portas Abertas, mas eles dão atenção mais profunda a 100 nações e foco especial nas 74 que registram níveis “altos” de perseguição (com pontuações acima de 40 em uma escala de 100 pontos, utilizada pela missão Portas Abertas).

Falando durante o evento de lançamento, Sam Brownback, embaixador-geral dos Estados Unidos para a liberdade religiosa internacional, elogiou a Lista Mundial da Perseguição. “Chegará o dia em que as pessoas poderão praticar sua fé livremente, e os governos protegerão esse direito”, disse ele. “Este dia está se aproximando e a missão Portas Abertas ajuda nesse esforço.”

Fonte: Christianity Today

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