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NIP

Missionária, professora e tradutora bíblica.

Quero ser um tradutor da Bíblia! – Parte 2

No post anterior, nós conversamos sobre a nossa vocação e de como devemos testar o chamado ministerial pra ter certeza de que estamos debaixo da vontade de Deus. Neste post, nós vamos conversar sobre o trabalho de tradução em si.

Como se inicia um trabalho de tradução? O primeiro passo que é dado pelo missionário linguista é construir relacionamentos na comunidade falante daquela língua alvo de tradução. Nós não estamos interessados na língua por si só. Certamente há um interesse científico e cultural no estudo de qualquer língua, mas línguas não precisam de tradução; pessoas é que precisam. A comunidade tem de ser a maior interessada em ter a Palavra de Deus na sua língua, pois ela é participante do processo.

Uma vez que a comunidade expressa esse desejo, então o linguista vai fazer um levantamento sociolinguístico. Qual/quais dialeto(s) é/são falado(s) por aquele povo? Qual desses dialetos é melhor compreendido pela maioria da população? O que as pessoas pensam da sua própria língua? A língua já foi descrita e documentada? Possui escrita? E as pessoas sabem ler na sua língua materna? Há alguma porção já traduzida? Essas e outras perguntas precisam ser respondidas para se iniciar um projeto de tradução.

Vamos imaginar que estejamos diante de um povo falante do mesmo dialeto da língua, sem nenhuma porção da Bíblia traduzida e sem escrita. A língua possui pouca descrição sobre a sua estrutura. O missionário vai:

  1. aprender a língua e a cultura. Além de desenvolver relacionamentos e compreender melhor a cosmovisão daquele povo, o missionário linguista terá uma melhor compreensão a respeito do funcionamento dessa língua.
  2. descrever a língua: sua fonologia, sua morfologia, sintaxe, semântica e pragmática, até chegar no nível do discurso.
  3. desenvolver um sistema de escrita para aquela língua que seja eficiente para o povo. O envolvimento dos falantes nativos passa a ser bem maior nessa fase. Muitas decisões de representação da escrita vão ser tomadas pelos falantes.
  4. desenvolver um projeto de alfabetização do povo, adultos e crianças, na sua própria língua. Incentivar criação de literatura nativa na língua (por ex, livros com as narrativas do povo) e também a sua leitura. As pessoas precisam não apenas ser alfabetizadas, mas precisam se tornar leitoras.
  5. escolher por onde começar a tradução: qual história o povo gosta de ouvir ou se identifica melhor?
  6. criar um esboço da história/livro escolhido, de forma a tornar o texto o mais claro possível (trabalho de exegese).
  7. fazer testes com a comunidade. O texto tem de ser claro e natural para os falantes daquela língua.
  8. fazer testes de exatidão. Com o auxílio de um consultor de tradução, que é conhecedor das línguas originais e um bom exegeta, o texto, além de natural e claro, tem de ser exato. O significado transmitido tem de ser o mesmo do texto original. O missionário deseja transmitir a Palavra de Deus e não nenhuma versão não autorizada dela.
  9. Sendo o texto natural, claro e exato, segue-se então para a sua impressão e distribuição, que pode ser em papel ou digital (apps) e até gravado (oral).

Além dos projetos de tradução, há também projetos de revisão, necessários quando a tradução já não atende mais à população devido às mudanças ocorridas na língua.

Bom, agora você pode pensar que o trabalho acabou, mas na verdade só está começando. É através desse texto pronto que as pessoas vão começar a conhecer a Deus, em suas próprias línguas e, portanto, vão precisar ser discipuladas. Crentes maduros e líderes da igreja precisam ser capacitados no ensino do texto sagrado. Através da tradução, a língua e a cultura daquele povo serão fortalecidas e não apenas esses aspectos, mas a igreja nascente também será mais forte.

No próximo post, nós vamos conversar sobre os requisitos para se tornar um tradutor da Bíblia. Até lá!

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