Quero ser um tradutor da Bíblia! – Parte 3

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Missionária, professora e tradutora bíblica.

Quero ser um tradutor da Bíblia! – Parte 3

Trabalhar com tradução é desenvolver um projeto de vidas! Provavelmente você vai começar um projeto para outra pessoa terminar ou vai terminar um projeto que alguém começou!

Se você trabalha com povos não alcançados, prepare-se, porque em alguma fase do seu ministério, você vai traduzir as Escrituras para a língua daquele povo. Não se planta igreja, nem se discípula pessoas ou se treina liderança sem a Bíblia! Ore para que Deus envie um missionário linguista, mas não espere por ele. Foi você quem Deus colocou lá. O trabalho é seu!

O que é necessário para se fazer um trabalho de tradução das Escrituras? Além do treinamento teológico, missiológico e antropológico, o missionário precisa receber treinamento em Linguística. No Brasil, a Missão ALEM é referência nesse treinamento, mas existem outras instituições pelo mundo que oferecem cursos especializados. Você pode encontrá-las no site internacional da SIL. Mesmo que você tenha graduação em Letras ou Linguística, recomendo que você receba esse treinamento. Os cursos universitários te darão muita bagagem teórica, mas você precisará de prática na análise de dados brutos. Algum conhecimento de grego e hebraico bíblicos é altamente desejado.

Você precisa ser paciente e dedicado. Você vai gastar muitas horas aprendendo enquanto convive com o povo no dia a dia, mas vai gastar tantas outras horas sentado, debruçado sobre dados da língua, analisando-a. Vai precisar treinar seu ouvido para ouvir, ouvir e ouvir o que as pessoas falam e como elas se expressam na língua.

Tudo isso é muito importante, mas o critério indispensável que precisa ser considerado é a convicção de que Deus está te chamando para essa tarefa. Não tem idade, nem aptidão, nem área de formação. Seja qual for o povo, a localidade e as condições que Deus trouxer a você, se você tiver convicção (certeza e propósito), você saberá que o Espírito Santo está com você, Ele que sabe todas as línguas e conhece todos os povos.

Deus sempre falou conosco da forma que nós podemos entender. Na história da humanidade, Ele falou conosco pessoalmente, por meio de Cristo e também através de outras pessoas, mas sempre o fez em nossa língua. Deus fala português conosco e fala thai com nossos irmãos tailandeses; fala marubo com os marubo e fala tapirapé com os 600 falantes dessa etnia existente no Tocantins e Mato Grosso.

Deus fala conosco na nossa língua do coração e continua querendo falar com as pessoas nas suas línguas do coração. Por isso o trabalho de tradução das Escrituras existe e é tão urgente. Ore por essa causa, seja parceiro de um trabalho de tradução, envie e – quem sabe? – seja enviado para esse ministério!

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Missionária, professora e tradutora bíblica.

Quero ser um tradutor da Bíblia! – Parte 2

No post anterior, nós conversamos sobre a nossa vocação e de como devemos testar o chamado ministerial pra ter certeza de que estamos debaixo da vontade de Deus. Neste post, nós vamos conversar sobre o trabalho de tradução em si.

Como se inicia um trabalho de tradução? O primeiro passo que é dado pelo missionário linguista é construir relacionamentos na comunidade falante daquela língua alvo de tradução. Nós não estamos interessados na língua por si só. Certamente há um interesse científico e cultural no estudo de qualquer língua, mas línguas não precisam de tradução; pessoas é que precisam. A comunidade tem de ser a maior interessada em ter a Palavra de Deus na sua língua, pois ela é participante do processo.

Uma vez que a comunidade expressa esse desejo, então o linguista vai fazer um levantamento sociolinguístico. Qual/quais dialeto(s) é/são falado(s) por aquele povo? Qual desses dialetos é melhor compreendido pela maioria da população? O que as pessoas pensam da sua própria língua? A língua já foi descrita e documentada? Possui escrita? E as pessoas sabem ler na sua língua materna? Há alguma porção já traduzida? Essas e outras perguntas precisam ser respondidas para se iniciar um projeto de tradução.

Vamos imaginar que estejamos diante de um povo falante do mesmo dialeto da língua, sem nenhuma porção da Bíblia traduzida e sem escrita. A língua possui pouca descrição sobre a sua estrutura. O missionário vai:

  1. aprender a língua e a cultura. Além de desenvolver relacionamentos e compreender melhor a cosmovisão daquele povo, o missionário linguista terá uma melhor compreensão a respeito do funcionamento dessa língua.
  2. descrever a língua: sua fonologia, sua morfologia, sintaxe, semântica e pragmática, até chegar no nível do discurso.
  3. desenvolver um sistema de escrita para aquela língua que seja eficiente para o povo. O envolvimento dos falantes nativos passa a ser bem maior nessa fase. Muitas decisões de representação da escrita vão ser tomadas pelos falantes.
  4. desenvolver um projeto de alfabetização do povo, adultos e crianças, na sua própria língua. Incentivar criação de literatura nativa na língua (por ex, livros com as narrativas do povo) e também a sua leitura. As pessoas precisam não apenas ser alfabetizadas, mas precisam se tornar leitoras.
  5. escolher por onde começar a tradução: qual história o povo gosta de ouvir ou se identifica melhor?
  6. criar um esboço da história/livro escolhido, de forma a tornar o texto o mais claro possível (trabalho de exegese).
  7. fazer testes com a comunidade. O texto tem de ser claro e natural para os falantes daquela língua.
  8. fazer testes de exatidão. Com o auxílio de um consultor de tradução, que é conhecedor das línguas originais e um bom exegeta, o texto, além de natural e claro, tem de ser exato. O significado transmitido tem de ser o mesmo do texto original. O missionário deseja transmitir a Palavra de Deus e não nenhuma versão não autorizada dela.
  9. Sendo o texto natural, claro e exato, segue-se então para a sua impressão e distribuição, que pode ser em papel ou digital (apps) e até gravado (oral).

Além dos projetos de tradução, há também projetos de revisão, necessários quando a tradução já não atende mais à população devido às mudanças ocorridas na língua.

Bom, agora você pode pensar que o trabalho acabou, mas na verdade só está começando. É através desse texto pronto que as pessoas vão começar a conhecer a Deus, em suas próprias línguas e, portanto, vão precisar ser discipuladas. Crentes maduros e líderes da igreja precisam ser capacitados no ensino do texto sagrado. Através da tradução, a língua e a cultura daquele povo serão fortalecidas e não apenas esses aspectos, mas a igreja nascente também será mais forte.

No próximo post, nós vamos conversar sobre os requisitos para se tornar um tradutor da Bíblia. Até lá!

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Missionária, professora e tradutora bíblica.

Quero ser um tradutor da Bíblia! – Parte 1

Somos quase 8 bilhões de pessoas no mundo e falamos 7.359 línguas em todo o mundo, segundo o ProgressBible. Apenas 706 línguas possuem acesso às Escrituras completas. Além das línguas orais, como o português, estão nessa conta 385 línguas de sinais reconhecidas. Nenhuma língua de sinal possui a Bíblia. No Brasil, temos mais de 10 milhões de pessoas surdas (IBGE, 2020). Há projetos hoje no Brasil empenhados em comunicar e traduzir a Palavra de Deus para essa comunidade.

São 3.922 línguas sem qualquer versículo traduzido. Nem mesmo João 3:16! Isso representa 254.019.074 pessoas que não podem conhecer a Jesus pela Palavra de Deus em suas próprias línguas. No Brasil, são faladas cerca de 218 línguas, dentre as quais 181 são línguas indígenas. Destas, apenas 7 possuem a Bíblia completa. A Ásia é o continente com o maior número de línguas carentes de tradução (870 línguas).

Como você pode ver por esses números, a necessidade de trabalhadores na área da tradução da Bíblia é muito grande. Se Deus está te chamando para esse trabalho, você é resposta de oração de muitos outros trabalhadores engajados nesse ministério.

Se você está começando sua caminhada como missionário, se seu despertamento é recente, antes de qualquer coisa, prove seu coração. Quais são os motivos que estão te fazendo caminhar nessa direção? Você está decepcionado com a sua igreja local, com sua carreira, com os planos que não deram certo? Esses não são motivos para você ir ao campo. Você é ativo na sua igreja? Você evangeliza os que estão perto? A igreja vai sentir a sua falta quando você for enviado? Se você não for benção perto, tão pouco o será longe. A sua igreja é engajada em missões? Se não for, seu trabalho em missões começa ali! Você precisa trazer o assunto para a mesa. Precisa falar e educar a igreja a respeito disso, pois um dia ela vai te enviar e ela precisa saber o que está fazendo. Seja submisso às autoridades que Deus colocou em sua vida. Se sua igreja e/ou sua família não te apoiam, reveja sua vida diante de Deus e seu testemunho diante delas.

Se Deus está realmente te chamando para ir além das fronteiras, ore e tenha paciência. Deus não faz nada atropelado. Ele vai abrir as portas, pois o projeto não é seu, é Dele. Ele é a parte mais interessada na sua partida e vai te colocar exatamente onde você precisa estar, no momento certo.

Acompanhe essa série de 3 posts pra saber mais detalhes sobre como ser um tradutor da Bíblia!

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